POEMAS URBANOS | NOÉLIA RIBEIRO

TODOS NA TUMBA

(a Charles Bukowski)

 

Charles, ninguém se importa com você.

Seu poema não importa.

Nem a lama nos sapatos do jovem

que acaba de fugir de casa e

tem nas mãos um pássaro

com a perna quebrada.

Observo da janela da sala:

ninguém se importa com eles.

Você não sabia?

Você não se lembrava?

A cerveja que busco na geladeira, derramo-a

em dois copos e, solitária, brindo ao amor.

Que importa se os transeuntes

deixaram os olhos em casa?

 

 

TEATRO

 

O vizinho do andar de baixo

encontrou-a sozinha

na fila do teatro.

Falaram sobre a vida e sobre como

as pessoas andam estranhas.

 

Aquela amizade crescia,

à medida que a fila andava.

 

Hoje seu melhor amigo

entrou no elevador e

não lhe disse um bom-dia.

 

A peça que viram já saiu de cartaz…

 

 

FOME

 

atirou as moedas do almoço

(pela volta de seu homem)

no abastado e mágico poço

e foi trabalhar com fome

 


Noélia Ribeiro é pernambucana, radicada em Brasília. Cursou Letras na Universidade de Brasília (Português e Inglês). Publicou Expectativa (1982), Atarantada (Verbis, 2009), Escalafobética (Vidráguas, 2015) e Espevitada (Penalux, 2017). Tem poemas em antologias, jornais, revistas e revistas eletrônicas. Integrou a antologia digital As Mulheres Poetas na Literatura Brasileira vol. 2, organizada por Rubens Jardim, e a exposição Poesia Agora, na Caixa Cultural (RJ). Recebeu, da Secretaria de Cultura (DF), o prêmio Igualdade de Gêneros na Cultura. É membra da Associação Nacional de Escritores (DF) e da União Brasileira de Escritores (RJ).

Categorías